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sábado, 2 de outubro de 2010

Nosso Lar

Ontem, finalmente, assisti ao filme “Nosso Lar”.
Achei que o filme foi muito bem produzido e os atores corresponderam às expectativas.
Mesmo já tendo frequentado Casas Espíritas por algum tempo, vieram à tona alguns questionamentos que eu já tinha naquela época.
Uma das coisas que me intriga até hoje, é o Umbral. Por que é necessário passarmos por todo aquele sofrimento extremado para que possamos aprender? A resposta, alguns diriam: "O homem só aprende sofrendo...”. Mas será que não existe alguma maneira menos aterrorizante e cruel de aprendermos? E onde entra o amor e o perdão?
Minha mãe, que também assistiu ao filme com uma amiga espírita, ficou chocada com as cenas do tal purgatório. Comentou com a amiga e ela lhe disse que temos que ser muito bons e doarmos tudo. Caso contrário...
E aí surge outro ponto que me afastou das Casas Espíritas – o assistencialismo como fim.
Não sou contra darmos assistência às pessoas necessitadas, mas não podemos resumir a isso. É como se pagássemos para não nos incomodar.
Na última Casa Espírita que freqüentei (sei que isso acontece com a grande maioria delas), a política era essa.
Em determinado dia do mês, se formava aquela fila imensa de mulheres, geralmente acompanhadas pelos muitos filhos, na espera de receberem ajuda.
Numa das reuniões do grupo o qual eu fazia parte, questionei se todos achavam válido apenas doarmos as coisas sem, por exemplo, abordarmos temas importantes como Planejamento Familiar, uma vez que na Casa trabalhavam voluntariamente, psicólogos, assistentes sociais, advogados,...
Lembro que houve um relato de uma pessoa que já participava do grupo há mais tempo que eu: ela nos disse existem muitas mulheres que iam buscar ajuda no primeiro ano com 1 filho e outro “na barriga”, no ano seguinte a mesma mulher ia com 2 filhos e outro “na barriga”, no ano seguinte 3 filhos e outro “na barriga” e assim por diante...
Perguntei, sabendo qual seria a resposta: e a figura paterna? Muitas mulheres sequer sabem quem é o pai de seus filhos e quando sabem, ele é ausente, na maioria das vezes. Outro fato real, é que, geralmente, cada filho é de um pai diferente.
Daí vem a Doutrina Espírita e diz: “que não devemos julgar” e eu pergunto: “por que então devemos pagar?” E respondo com outras duas perguntas: “para que nossa consciência fique mais leve?” ou “por medo de irmos para o tal do Umbral?”.
A minha consciência não fica mais leve quando faço doações. Ao contrário, fico ainda mais preocupada. Muitas vezes, pensando que essa situação é paliativa e não resolve o problema de ninguém.

4 comentários:

  1. Muito bem observado. O assistencialismo é uma praga, travestido do que quer que seja, religião, política ou culpa. Perpetua a pobreza e a ignorância, ao invés de criar condições para erradicá-las. Parece que sempre tem gente que precisa da pobreza. Eu não dou nada para ninguém, 27,5% de IR + impostos diversos fazem com que eu trabalhe 4 meses por ano para que o Estado faça a sua parte. Abraço!

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  2. Exatamente. Os programas sociais apresentados por todos os governos não passam significativamente desse patamar assistencialista. Por isso os resultados são mais imediatistas e não resolvem o problema da população de uma forma mais abrangente. Uma polítca de planejamento familiar teria que ser o foco principal de qualquer ação mais consequente.

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  3. Magali e Luiz Fernando,eu ainda não assisti ao filme "Nosso Lar", mas gostaria de falar sobre a idéia do assistencialismo que tanto se vê por aí e das penalizações ou conseqüências que resultam destas atitudes.
    Concordo plenamente com vocês sobre esta questão, mas sabemos que se ninguém fizer algo pelos mais necessitados, jamais saberemos o final desta historia.
    Isto é o que diz o nosso Espírito.

    Um grande abraço
    Roque Becker

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  4. Seja bem vindo Roque,

    O assistencialismo sem estar inserido num contexto político adequado, se torna uma medida paliativa que não ajudará as pessoas. Ao contrário, criará nelas uma falsa idéia de que sempre terão seus problemas resolvidos, sem que precisem lutar ou pensar de forma mais responsável sobre suas vidas. Entra aí, eu insisto, a questão do planejamento familiar.
    Um grande abraço.

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