Páginas

sábado, 21 de agosto de 2010

Um Anjo em Minha Vida

Até dezesseis anos fui cética, não acreditava em Deus, vida após a morte, espírito e tudo mais. Era neta de comunista e já me sentia muito atraída por política e distanciada de qualquer religião. Até que me aconteceu uma coisa terrível...
Tinha uma melhor-amiga, a S., que estudava comigo desde a segunda série do ensino fundamental, ou seja, desde os 8 anos estávamos sempre juntas, não só na escola como fora dela também.
Embora vivêssemos em bando, era com ela que me identificava mais.
Ela era uma pessoa amada por todos, queria ser astronauta, era super bondosa, simpática e... libriana.
Ela era como uma irmã mais velha, quase mãe, sempre pronta para me ajudar. Acho que foi um anjo em minha vida.
Um dia eu estava em sua casa quando ela me convidou para ir para praia e eu não aceitei o convite - iria ela e alguns familiares. Vi que ela não gostou, mas realmente eu não estava disposta a ir.
Quando mais tarde ela e o pai dela me levaram em casa, ela insistiu mais uma vez para que eu fosse. Novamente recusei o convite.
Ela então me disse - Tu vais te arrepender...
Esta foi a última vez que a vi.
S. viajou então com a família e eu segui minha rotina aqui em Porto Alegre.
Era uma terça-feira e eu estava me preparando para ir à pisicina de um clube que frequentávamos e quando estava escovando os dentes, tive minha primeira premonição.
De repente, tive uma sensação de morte eminente - alguém iria morrer...
Pensei nas pessoas próximas que estavam doentes e lembrei do meu pai - ele tinha bronquite. Pensei: será que ele vai morrer?
Como eu disse, eu era cética, portanto logo esqueci o fato. Fui para a piscina pela manhã e à tarde retornei.
Quando estava nadando, uma menina que não era muito minha amiga disse que precisava falar comigo. Achei super estranho, mas quis saber o que ela queria. Ela então me disse que minha amiga havia desaparecido na praia, mas ninguém sabia o que realmente havia acontecido.
Eu soube então, naquele exato momento, que minha amiga havia morrido. Lembrei da sensação de morte que havia sentido naquela manhã, provavelmente no momento do afogamento.
Quase enlouqueci, era um misto de dor e culpa tão insuportável, como jamais havia experimentado na vida. Achava que poderia ter evitado o afogamento se tivesse ido junto. Nós duas havíamos feito um curso de natação dois anos antes...
No sábado seguinte, foi encontrado o corpo dela.
Quem mais me ajudou naquela época, foram alguns meninos da nossa turma que não saiam de perto de mim. Eles não falavam muito, só ficavam do meu lado. Foram tão amigos - me acompanhavam em todos os lugares que eu ia.
Minhas amigas, sumiram. Talvez eu é que tenha me afastado delas, não sei ao certo o que houve.
Em muitos momentos bons e ruins continuei sentindo falta dessa minha amiga, que mesmo depois de morta me ajudou a ver que a vida é muito mais do que eu imaginava ser.

Nenhum comentário:

Postar um comentário